Antigas
“Fazedores de Chuva” – Entrevista com Kalika, o médico que viajou do Brasil ao Alaska de moto
Postado em: 9 dezembro, 2012
No dia 21/11, o médico e motociclista Carlos Alberto Bragagnolo, o Kalika,
no caminho de volta da sua aventura de moto no trajeto Brasil – Alasca, parou em São José dos Pinhais/PR, na fábrica da Magnetron, para uma rápida visita a presidente da empresa Denise Remor e aproveitou para contar ao blog Nação Duas Rodas um pouquinho dessa surpreendente viagem.
Ainda com o gostinho de poeira na boca, há 7 meses pilotando sua moto Honda Gold Wind, de 1.800 cc., 60.000 quilômetros percorridos e muita história boa pra contar na bagagem, a aventura ainda não estava no fim: ele seguiria a caminho de Florianópolis, onde tudo começou no dia 03/05/12.
Kalika passou por Guarapuava e Foz do Iguaçu no Paraná, Assunção no Paraguai, Argentina, Santa Cruz de La Sierra e Potosi, na Bolívia, lá, ficou 15 dias percorrendo o enorme Salar de Uyuni. Depois esteve no lago Titicaca e em diversas outras cidades, como Lima, no Peru e Quito, no Equador.
Na Colômbia, colocou a moto num avião para chegar ao Panamá. Ao todo foram 8 países da América Central, nos quais ele sofreu com dificuldades nas fronteiras, como pagamento de propina, calor, burocracia e demora.
Depois veio o México e os EUA, onde ele passou pela Costa Oeste – Costa Pacífico e percorreu 35 estados americanos. Atravessou todo o Canadá, onde pegou a Alaska Highway e chegou ao seu destino gelado.
No Canadá e no Alaska, o percurso mais tenso, não era possível dirigir à noite devido a animais soltos na pista e às péssimas condições das estradas. Entre os animais que cruzaram seu caminho estão ursos, búfalos e outros menos comuns como o caribu (rena) e stoneship (cabrito da montanha). O mais perigoso, no entanto, é o moose (alce). Além da chance de chocar com um deles no caminho, o moose se diferencia por atacar.
Fã da comida mexicana, “uma das melhores do mundo” em sua opinião, Kalika considerou a comida boa em todos os lugares por onde passou. Ganha destaque também a culinária peruana. Ele pôde comer muito ceviche e tomar alguns piscos sauers na volta. Ali, a menção honrosa fica para o chef Gaston Acuriu.
A foto acima é do Banff National Park, no Canadá, país de conhecidas e maravilhosas paisagens naturais. No entanto, para Kalika, a paisagem mais bonita da viagem foi a da Bolívia, graças à diversidade que compreende montanhas, desertos e florestas. Apesar do clima ser árido, seco e com pouco oxigênio, a natureza lá vale a vista.
De recordação, o que ele vai levar pra sempre no coração são as pessoas que ele encontrou no caminho, e que se transformaram em amigos. Contou com muito apoio, foi bem recebido e acolhido por onde esteve. Essa, sem dúvida, foi a melhor revelação da viagem.
O motociclismo é uma irmandade: um protege e abriga o outro. Quem tem moto é privilegiado: os motociclistas fazem parte de um grupo, de uma tribo, eles se encontram em alguns pontos e depois cada um segue seu destino. São acolhidos nas casas de outros motociclistas pelo caminho.
E o Alaska? O frio e o sol da meia noite, foram as grandes impressões. O fato de “não anoitecer” na região fez Kalika aproveitar ainda mais seus longos passeios de moto. Também curtiu o caminho iluminado que o levou até lá, como o Canadá e sua paisagem fantástica ao atravessar as montanhas rochosas, na costa Oeste. Foram 1200 km de estrada de chão no Canadá e Alaska.
Na volta, Kalika desceu pela costa leste, passando por Nova Iorque.
“O que move a gente são os desafios. A determinação de ter um objetivo e querer chegar lá. Sem isso você não vai. É muito tempo na estrada, muito tempo fora de casa. Mas há a emoção de aprender a ver as coisas diferentes, de uma maneira mais sensível. Sentindo-se bem e contente por superar os desafios. Realizado. É uma energia boa.” conta Kalika a respeito do sentimento que tomou conta dele na aventura.
Como não é possível planejar tudo, é preciso estar preparado e aproveitar os momentos inusitados. “Tem que aprender com os imprevistos!”, ele diz. E aproveita para dar um conselho: “todo empresário deveria pegar uma moto e sair por aí, para aprender a planejar, executar”.
Sem levar uma barraca pra dormir, o saldo da viagem, se considerado o rendimento da moto, foi positivo:
- duas trocas de pneu (2 jogos)
- algumas revisões gerais (onde foi possível)
- não faltou gasolina e a moto não quebrou
O maior aperto: escavar o barranco para tirar a moto do caminhão Toyota bandeirante 4×4.
Carlos tem 3 filhas e 3 netos e adora o gosto de aventura. A família não ficou preocupada: “eles sabem que eu vou, mas volto”, diz contente.
Kalika andou de moto e a moto andou de avião, barco, navio de carga, navio de passageiro, caminhão e até balsa.
Sua moto, a Gold Wind, é original, ou seja, não é off road. Por isso, muita gente não acredita que ela conseguiria passar por todos esses obstáculos, mas ela se saiu muito bem. Enfrentou terra, pedras, barro, estradas ruins e sem asfalto com toda a coragem. Chegou até mesmo a pegar neve nas montanhas do Alaska.
Como o Carlos já tinha viajado de Florianópolis à Patagônia (ida e volta), e agora foi de Florianópolis até o Alaska, ele é considerado um fazedor de chuva, já que assim são chamados aqueles que enfrentam esses dois grandes desafios de moto.
Com espírito aventureiro, Kalika nem desfez as malas, mal terminou a viagem e já planeja a próxima: ir para o Alaska no inverno. Já vai começar a se preparar para o frio de -40 graus.
Kalika se aposentou, vendeu sua clínica de radiologia e caiu na estrada. E agora tem histórias incríveis pra contar, como essa que você leu aqui.
Deu vontade de fazer a mesma coisa? Pela narrativa de Kalika e as fotos espetaculares dá… pra começar, você já pode ir lendo nossas dicas de viagens aqui no blog e ir se preparando para quando chegar a sua vez de ir até o Alaska de moto!